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Lançamento da edição especial do livro do João Zinclar

No dia 14 de agosto, às 19 horas, no Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região acontece o Lançamento da edição especial do livro do João Zinclar

O Instituto João Zinclar convida para o lançamento da segunda edição do livro “O Rio São Francisco e as Águas no Sertão”, publicado em novembro de 2010 pelo fotógrafo dos movimentos sociais, das lutas da classe operária e das causas ambientais, João Zinclar. O livro, que registra a cultura do povo ribeirinho a sua luta em defesa do rio, é resultado de cinco anos de trabalho, entre 2005 e 2009, em que João Zinclar percorreu as margens do Rio São Francisco em oito estados, e seguiu os dois eixos previstos na obra de transposição que corta o sertão nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.  

A obra é uma contribuição para o debate sobre o uso dos recursos hídrico e a comercialização da água, por meio de imagens, depoimentos, entrevistas e observações de pesquisadores. O esgotamento da primeira edição do livro permitiu uma nova roupagem, com embalagem especial em caixa de papelão personalizada.

O lançamento da segunda edição do livro também marcará a aprovação do estatuto orgânico do Instituto João Zinclar.

 

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Na sua juventude, João Zinclar foi hippie e percorreu o país, conhecendo os caminhos que, após alguns anos, trilhou como fotógrafo.

Quanto mais andou, mais conheceu o povo simples e sofrido, por quem nunca pensou em parar de lutar. Como fotógrafo operário, João Zinclar foi metalúrgico, trabalhou como encanador industrial, integrou a direção do sindicato em Campinas, e militou no PCdoB até 1996.

Como operário da fotografia, João Zinclar sempre esteve onde o povo lutava pelos seus direitos e conquistas, registrando as grandes mobilizações dos movimentos sociais, realizando exposições, ministrando cursos e palestras.

João Zinclar faleceu aos 56 anos, no dia 19 de janeiro de 2013, quando retornava de um trabalho em Ipatinga (MG) e o ônibus no qual viajava foi atingido por um caminhão que vinha no sentido contrário.  O acidente ocorreu próximo ao município Campos de Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro. Seu olhar sensível e compromisso de vida dedicada ás causas sociais inspiraram diversos fotógrafos, jornalistas e comunicadores que fundaram o Instituto que leva o seu nome, com sede o MIS – Museu da Imagem e do Som de Campinas, onde está guardado todo seu acervo com mais de 180 mil fotos.

 

Saiba mais: 

 

JOÃO ZINCLAR, olhar forjado na luta

 

 João Zinclar em nasceu 13 de agosto de 1956, na cidade de Rio Grande (RS), onde iniciou sua vida profissional como operário da construção civil. Em 1974, migrou em busca de trabalho nas grandes obras da região sudeste. No entanto, a compreensão das relações de opressão o fizeram decidir viver como artesão e, entre 1976 e 1980, percorreu o Brasil junto com o movimento hippie.

 

No final dos anos 1970, a luta pela anistia, as greves de canavieiros e operários o fizeram repensar a forma de atuar. Em 1981, de volta ao Rio Grande, retomou a vida operária, ingressou no Partido Comunista do Brasil, adquiriu uma câmera fotográfica e frequentou cursos do Foto-Cine Clube.

 

Gaúcho. Em 1985 foi designado para atuar junto aos metalúrgicos em Campinas, tornou-se dirigente sindical, exercendo entre 1990 a 1996 a tarefa de diretor de imprensa do sindicato dos metalúrgicos.

 

No final da década de 1990, desligou-se do partido e do sindicado, mas não da política, e iniciou um novo ciclo de militância: a documentação fotográfica das lutas de entidades e movimentos sociais de resistência da classe trabalhadora.

 

Suas ações eram pautadas por grande sensibilidade humana, capacidade técnica e artística, mas principalmente, pela opção política militante de esquerda. Seus trabalhos ajudaram a fortalecer movimentos sociais no Brasil e no exterior. Por dedicar-se ao propósito de fazer denúncia, foi reconhecido pelos movimentos sociais com várias premiações.

 

Sobre sua atuação como fotógrafo, afirmava: ““sou um comunista que se orienta pelos valores e pela teoria marxista de como interpretar e procurar transformar esse mundo (…). O que me motiva a fotografar é a luta de classes (…). Antes de ser fotógrafo, sou um militante. A máquina nada mais é que um instrumento a serviço das mudanças sociais”.”

 

As imagens do Acervo João Zinclar são, portanto, parte da ação de um trabalhador inserido nas lutas sociais, que soube identificar as transformações na cultura visual e sua importância na luta política.

 

Desde que se estabeleceu em Campinas, o Museu da Imagem do Som (MIS) passou a ser um dos locais em que o militante fotógrafo encontrou interlocutores para seus debates políticos e estéticos. Sua atuação junto à equipe do MIS Campinas não era de frequentador, mas de coautor de projetos de documentação. Sua compreensão da memória como ação de resistência é um grande exemplo. Com a  ausência abrupta do fotógrafo o  Museu da Imagem e Som de Campinas assumiu a tarefa de organizar o Acervo João Zinclar, composto por registros de greves, debates, ocupações, mobilizações, passeatas, movimentos estudantis, festas, celebrações e marchas, datados do início dos anos 1990 até o início de 2013, no Brasil, na Bolívia e na Venezuela. São imagens que registram inquietações sobre sonhos, frustrações, vitórias, projetos, desejos, contradições com as quais a vida, a luta, a militância e a memória se fazem.

 

Trata-se de um dos mais importantes acervos da história brasileira recente. Não apenas pela quantidade e qualidade de imagens, nem somente pelo período  histórico, mas principalmente por ter como agente produtor um olhar forjado ao longo de anos em estudos e leituras, no peso da rotina operária, nos improvisos da vida de andarilho, no trabalho artesanal, nos embates da luta sindical, na formação foto-cineclubista, na luta política de esquerda e na troca de olhares vivida em metrópoles e vilarejos. Realidades registradas pela ótica de quem recusou-se a ser mera extensão de máquinas, tanto na fábrica como na mídia, e escolheu não se acomodar na camada confortável da obviedade – da vida, da política e da produção fotográfica.

 

Sônia Aparecida Fardin – Historiadora – Museu da Imagem e do Som de Campinas

 

 

 

JOÃO ZINCLAR (1956 –-2013)

Principais realizações

Colaborações com sindicatos: Sindicato dos Químicos, Sindicado dos Metalúrgicos, Sindicato dos Professores e Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp e Sindicatos dos Correios. Atuações como repórter fotográfico: jornal Brasil de Fato,  Jornal e Revista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Conflitos no Campo Brasil, Comissão Pastoral da Terra, Biodiversidad, Sustento Y Culturas (México) e Regenwald Report (Alemanha). Entre 2001 e 2004, trabalhou para a SANASA (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A, Campinas) e Diário Oficial da Prefeitura de Campinas. Participações em mostras e exposições: Fome e Luta em Terra Seca (1998); Exposição Fórum Social Mundial (2001 e 2002); exposição coletiva sobre migrantes na região de ampinas,retratando as movimentações dos Sem Terra e Sem Teto, paralela à exposição Êxodos, do fotógrafo Sebastião Salgado(2002); exposição coletiva Águas que movem a história (2004); Exposição coletiva Olhares sobre a Cidade, comemorativa dos 230 anos da cidade de Campinas (2004); Ensaio fotográfico sobre a região do sub-médio Rio São Francisco, junto com o jornalista Flaldemir Sant´Anna (2005); exposição fotográfica O Outro Lado do Rio, sobre o Rio São Francisco em toda sua extensão, da nascente à foz (2007); Vinte e cinco anos do MST (2009). Colaborações com revistas e livros: A História da luta pela terra e MST (2001), Cutting the Fire: The story of the landless movement in Brazil (2002), Campinas – 230 anos: Governo Democrático Ppular (2004), O Banco Mundial e a Terra: ofensiva e resistência na América Latina, África e Ásia (2004), Encruzilhadas do Sindicalismo (2005), Água e Cidadania em Campinas e Região: O Desafio do Século 21 (2004), Campinas, imagens da história (2007), Da miséria ideológica à crise do capital (2009), Guardiões do Velho Chico (2011), Nos trilhos do trem(2012) e Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II (2013). Livro autoral: O Rio São Francisco e as Águas no Sertão (2010). Premiações: Medalha Hércules Florence/ Mérito Fotográfico, concedido pela Câmara Municipal de Campinas, SP (2005), Prêmio Luta pela Terra/ Categoria fotografia/ MST 25 anos – 1984-2009, em Sarandi, RS (2009), Prêmio Amigos das Águas/ I Encontro dos Atingidos(as) pela transposição do Rio São Francisco, em Campina Grande, PB (2010) e Prêmio Pequi de Ouro, pela defesa do cerrado na Bacia do Rio Grande, em Barreiras, BA (2012).

 


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